O jornal anunciava
Dava em todos os canais
Mulheres que saiam de casa
E não voltavam mais
E lá na quebrada
O assunto se espalhava
Mulherada assustada
Na cabreiragem andava
Famílias destruídas
Sonhos terminados
Vidas subtraídas
O Povo revoltado
E perto do mato
Vez em quando subia
Um cheiro de morte
Presente se fazia
A policia era chamada
Para averiguação
Mata adentro avançavam
Enquanto a aflição
De amigos e a familia
De quem tinha sumido
Aumentava sem parar
Ouviam-se choros e suplícios
Gente com terço rezando
Com que lhe sobrou de fé
Encontraram
Um corpo de mulher
Tava despida
No meio do matagal
Suposta vitima de
Abuso sexual
Em avançado estagio
De decomposição
Fariam a perícia
E a identificação
O filme se repetiu
Roteiro infernal
Rotina ver o instituto
Médico legal
Colando
Lá na quebrada
Era a terceira
Vítima encontrada
Tinha investigação
Mas o Jack era profissa
O povo viu então
Que depender da polícia
Não ia dar
Resultado
Com o passar dos dias
Iam arquivar o caso
Decidiram então
Não iam mais esperar
Os dias de gloria dele
Tavam prestes a acabar
O bico era piolho
Mas podia vacilar
E quando isso acontecesse
Era pra gente ta lá
Dito e feito, não deu outra
Chegou o grande dia
Perto do matagal
Ouviu-se uma gritaria
Tava em cima da mina
Quando foi surpreendido
Foi pego no flagra
Tava fudido
Tentou sair correndo
Tropeçou e caiu
Um irmão tava ligeiro
Foi atrás a mil
Vendo ele caído
Grudou ele no chão
Botou pra dormir
Com um mata leão
Incompetência da policia!
Revolta da população!
Fez o povo fazer justiça!
Com as próprias mãos!
Lei de talião
Como antigamente
A lei do olho por olho
E dente por dente
Cadeia pra ele seria pouco
Poderiam até soltar
Com o pretexto de ser louco
Também não poderia
Simplesmente dá um tec
Então foi decretada
A sentença do Jack!
Acordou de ponta cabeça
Pelos pés amarrado
Pra não fazer barulho
Também foi amordaçado
Num porão frio
Úmido e escuro
Preliminar do inferno
Sofrimento puro
Apanhava o dia inteiro
Era surra todo dia
Sessões de sufocamento
Com um saco sofria
Com o cabo de vassoura
Várias vezes foi saudado
Na base do maçarico
Teve o corpo depilado
A entrada no muquifo
Aberta à comunidade
A condição pra ver o Jack
Era dar nele um salve
Por incrível que pareça
Alguns sentiam compaixão
Gente iluminada
De bom coração
Não conseguiam nem
Dar um tapa
Mas ganhavam apoio
Psicológico da rapa
’’E aê tio?
Com pena desse safado?
Olha o que esse cara fez
Ainda quer ser perdoado?
Olha o sofrimento
Que ele trouxe a essa gente
Quer vim com essa agora
De que se arrepende?
Errar é humano? Perdoar é divino?
Ah! Mas que bonito
Que discurso mais fino
Ele quis ir pelo errado
Agora não tem mais volta
Pense nas pessoas
Que por ele foram mortas
E se fosse sua mulher?
E se fosse sua irmã?
Quem sabe sua mãe?
Ou a sua filha, hã?
Então, né?
Entende que eu to dizendo?
É questão de se colocar
Na pele de quem ta sofrendo
Ter empatia
Certo?
Aqui se faz, aqui se paga
Eu não acredito em inferno
E assim foram
Passando os dias
Surra em cima de surra
O sangue escorria
Arrancaram unha por unha
Quebraram dedo por dedo
O cara tava tão zoado
Que chegava dar medo
Na boca mais nenhum dente
Alguns foram quebrados
Outros com alicate
Sem dó foram arrancados
Com uma faca cega
As orelhas foram cortadas
Varias partes do corpo
Com soda foram queimadas
Quebraram mãos e braços
Pés e pernas
Vários órgãos afetados
Hemorragia interna
Tava perto do fim
Já não aguentava mais nada
O corpo inteiro doía
Quando ele respirava
Suspirou pela ultima vez
O corpo estremeceu
Aqui jaz
Morreu
Pra finalizar
E resgatar a tranquilidade
Devolver a paz
Pra comunidade
O Gran finale
A última missão
Deceparam sua cabeça
Usando um facão
E finalizaram
Expondo ela
Como atração
Num campinho da favela
Nada vai trazer de volta
A vida daquelas mulheres
Mas justiça foi feita
Com a sentença do Jack